Definição
Não é fácil caracterizar aborto habitual ou recorrente ou repetitivo devido à falta de definição precisa. Algumas vezes é referido como 2 abortos consecutivos, outras vezes 3 ou mais, ainda incluindo mulheres com um nascido vivo seguido por abortos sucessivos.
Dois terços das pacientes com 3 abortos sucessivos têm sucesso em engravidar novamente, embora o número de fetos com baixo peso seja mais frequente.
Há uma grande falta de clareza em interpretar as causas de abortamento habitual após concepção natural ou assistida. Um imenso número de fatores tem sido proposto, o que por si só é testemunho da ausência de “insights” com relação aos fatores causais primários envolvidos nessas perdas gestacionais sucessivas.
Incidência
Essa condição está restrita a 1% das mulheres e a menos de 1% das pacientes grávidas. As estimativas da frequência de aborto recorrente dependem de fatores como os critérios de diagnóstico utilizados – clínico, ultrassonografia e/ou dosagem de fluidos biológicos.
A difusão da fertilização in vitro (FIV e ICSI) e de outras técnicas de Reprodução Assistida (TRA), o adiamento da primeira gestação e os níveis aumentados de “stress” ou estresse na sociedade atual, são fatores que podem estar aumentando a sua frequência.
Pacientes que abortam após a FIV ou ciclo natural têm maiores chances de apresentar outro aborto em ciclos sucessivos.
Quarenta e oito em cada cem (48%) pacientes que abortam uma gravidez natural (não assistida), têm um novo aborto durante gestação posterior. Ao contrário, somente 7% das pacientes irão abortar se já houve gestação à termo anterior (Corsan GH, Kemmann E, 1990).
Abortos sucessivos ocorrem em diferentes idades gestacionais na mesma paciente e estão associados a muitos fatores causais; podem ser inclusive familiares.
O que causa os abortos recorrentes ou de repetição?
Algumas causas sugeridas para aborto espontâneo recorrente também correspondem a fatores predisponentes a qualquer tipo de aborto (Tabela-1)
Tabela-1: Causas Locais e gerais de abortamentos |
Desordens genéticas cromossômicas: Translocações, Inversões e Heteroploidias. |
Anomalias Uterinas: útero septado , útero bicorno e útero duplo. Incompetência Istmo Cervical, hipoplasia uterina (útero infantil), miomas intramurais e miomas submucosos, sinéquias, pólipos e retroversão uterina (útero virado). |
Disfunção Endócrina – Luteinização inadequada, Disfunção Tireoidiana, Hormônios ovarianos alterados como na Síndrome dos Ovários Polimicrocísticos (SOMP), Hiperprolactinemias e Distúrbios do metabolismo da glicose |
Anemias e Complicações tardias da gestação. |
Presença de Autoimunidade (Anticorpos Anticardiolipina, Doenças Autoimunes, Lupus, Síndrome de Deficiência Autoimune) |
Insuficiência de suprimento sanguíneo à placenta – Fluxo Placentário inadequado (particularmente em pacientes idosas e com hipertensão arterial). |
Infecções por Clamídia, Mycoplasmas, Sífilis, Toxoplasmose, Rubéola, Herpes, Citomegalovirus, Listeriose (muitos desses germes causando endometrites, ou inflamação do revestimento interno do útero). |
Desnutrição e Deficiência vitamínica (B12, D). |
Endometriose. |
Drogas: neurolépticos, anticonvulsivantes, opiáceos, alucinógenos, toxinas. |
Hábitos sociais: cigarro, álcool, uso de drogas, exercícios físicos e “stress” emocional. |
Causas Imunológicas
Alguns investigadores acreditam que anormalidades da imunologia da implantação do bebê no útero causam aborto recorrente.